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Atualizado: 04-05-2025 | Tempo de leitura: 3 minutos

Bahia já registra mais de 4 mil crianças sem o nome do pai em 2025

Bahia já registra mais de 4 mil crianças sem o nome do pai em 2025Nos quatro primeiros meses de 2025, 3.764 crianças foram registradas sem o nome do pai na Bahia, 756 (20%) delas em Salvador, apontam dados da Associação dos Registradores Civis das Pessoas Naturais do Brasil (Arpen Brasil). No entanto, para além de números e estatísticas, a falta do reconhecimento paterno está longe de ser apenas um dado, pois é um fator que pode moldar financeiramente, socialmente e emocionalmente a vida dessas crianças e de suas mães.

Sem o nome do pai na certidão de nascimento, essas crianças enfrentam barreiras que vão desde dificuldades no acesso a direitos básicos – como pensão alimentícia e herança – até desafios emocionais que podem afetar sua autoestima e desenvolvimento. Assim, o peso dessa ausência recai, principalmente, sobre as mães, que mesmo com o apoio e ajuda de familiares, essencialmente criam os filhos sozinhas.

Impacto subjetivo - Pela perspectiva da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), experiências de rejeição na infância podem dar origem a crenças disfuncionais, como “não sou bom o suficiente, não sou digno de amor” ou “ninguém vai ficar por perto”, explica a psicóloga clínica Paula Regina Nascimento de Carvalho.

“Com o tempo, essas crenças se manifestam em sentimentos de tristeza, raiva, insegurança, baixa autoestima e até dificuldade de confiar nos outros. Além disso, o estigma social associado a ‘não ter pai’, que pode começar com perguntas ou comentários na escola, contribui para um sentimento de exclusão, vergonha ou inferioridade”, explica.

Já no caso das mães, para além da sobrecarga financeira, emocional e logística de criar uma criança sozinha, há um forte peso social que normaliza essa ausência – quase como se fosse esperado que a mulher dê conta de tudo. “Frases como ‘ela é uma guerreira’, ‘mãe é mãe e pai’ e piadas como ‘meu pai foi comprar cigarro’, reforçam uma cultura que banaliza o abandono paterno e romantiza o sofrimento materno. Isso pode levar a um esgotamento emocional severo”, aponta a psicóloga.

Muitas mães, ressalta Paula Regina, não têm espaço para expressar sua dor ou buscar apoio, pois são vistas como super-heroínas.

“Vejo muitas que sentem culpa, solidão, exaustão e que vivem sob constante pressão para não falhar, como se errar não fosse uma opção. Durante minha atuação como psicóloga com crianças em situação de vulnerabilidade social, observei que a ausência paterna é uma realidade constante. Em muitos casos, o pai nunca chegou a conviver com a criança”, relata.

E isso não pode, de forma alguma, ser encarado como algo natural ou inofensivo: precisamos falar sobre o impacto emocional que isso gera e responsabilizar também quem se ausenta.

“A presença constante de figuras cuidadoras, como avós, professores ou outros adultos confiáveis, pode ajudar a preencher lacunas emocionais importantes. E, principalmente, mães e filhos precisam ser acolhidos em suas dores, em vez de julgados ou idealizados. O afeto, o cuidado e a escuta são ferramentas fundamentais para romper o ciclo da negligência e fortalecer a saúde mental dessas famílias”, afirma a psicóloga. As informações são do A Tarde.

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